Morte do debate

A morte do debate

 

            Eu tinha uma amiga na época do cursinho que, assim como eu, amava debater. Ficávamos horas discutindo algum assunto, analisando e tentando refutar os argumentos da outra. Era maravilhoso. Um dia, após um debate bastante acirrado, ela me falou:

- Não concordo com metade das coisas que eu estava defendendo.

- Então por que você estava defendo? – Perguntei confusa.

- Porque se eu concordasse com você a discussão teria acabado. – Ela me respondeu.  

            Naquele momento senti como se um véu tivesse caído dos meus olhos e as coisas se tornaram um pouco menos turvas do que eram. Até hoje, na maioria das vezes, faço o papel de advogado do diabo numa discussão. Se o parceiro de debate não colabora, eu mesma começo a refutar meus argumentos anteriores, numa tentativa desesperada de gerar algum conflito mental, despertar qualquer reflexão.  

            Porém, tenho me sentido, cada vez mais, um animal em extinção. As pessoas não querem discutir. Argumentar dá trabalho, o que não percebem é que é um trabalho maravilhoso. Os músculos não utilizados atrofiam, os argumentos também. A única forma de aprender algo novo é saindo da nossa zona de conforto.

            Me entristece absurdamente que as pessoas não queiram mais discutir, debater ideias, aprender, melhorar sua própria argumentação. É muito fácil convencer aqueles que pensam como você, na verdade, isso não requer nenhum convencimento, se transforma numa babação de ovo mútua.

            O que nos faz crescer é a oposição é o debate, é a necessidade de defender nossas ideias frente ao seu oposto, essa é a única forma de descobrir se nossas ideias são realmente boas ou nem tanto assim. 

    Eu sei que as pessoas são preguiçosas, mas ainda assim, me incomodo. A maior arma dos preguiçosos mentais é desqualificar o opositor, frente a incapacidade de refutar as ideias, as pessoas lançam, então, mão dos piores adjetivos. A maior demonstração de ignorância é acusar o outro de: petralha, bolsominion, gordofóbico, facista, ou o novo adjetivo que preferirem... É extremamente triste observar a morte, nada lenta, do exercício mental.

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